domingo, 30 de maio de 2010

O Legado de Outrora e a Herança do Futuro

Os idosos representam em Niterói 13,76% (82.560) de uma população de 600 mil habitantes e permitem ao município a ocupação do primeiro lugar no estado em índice de envelhecimento. Diante de tal quadro a Prefeitura tem se mostrado preocupada com o bem-estar daqueles que tanto trabalharam, pioneiramente convocando cidadãos de terceira idade, familiares e instituições para discutir políticas de valorização do idoso [1º Encontro Municipal (VIVAIDOSO 1), em 2002]. Ao encontro deste ânimo me propus a verificar a integração dessa população nas tecnologias latentes e fervilhantes do novo século.


Opções de acesso

Nas comunidades de baixa renda do município as Associações de Moradores como pólos de informação e de serviços não dispõem de centrais informatizadas, contando com os laboratórios das escolas, os TELECENTROS e as LAN-HOUSES como mediadores entre a informática e a população local. Os TELECENTROS não disponibilizam um horário muito grato para a população mais idosa (manhãs e tardes), que devido à sua condição e à nova dinâmica sociais voltam ao mercado de trabalho – ou nunca o deixam – a fim de suprir sua renda e uma subsistência digna e/ou suster filhos e netos. Além disso há a necessidade de um cadastro e de um prévio agendamento para a utilização do espaço, atendendo, portanto, majoritariamente os mais jovens.



Crianças do Morro do Estado partcipando de oficinas direcionadas

As LAN-HOUSES, que têm crescido muito nos últimos anos, são muito atrativas pela baixa tarifa do uso dos computadores e da internet concentrando, pois, muitos jovens que também procuram a web como fonte de pesquisas acadêmicas, todavia, em grande parte buscam sites de relacionamento (Orkut, Facebook, Twitter, Hi5, Que Pasa) e de jogos on-line. A população mais velha acaba não se sentindo a vontade para freqüentar tais lugares – apenas extraordinariamente, quando o trabalho exige – pois não há espaço para o aprendizado e o sanar de dúvidas cibernéticas.


Principal público de uma Lan-house

Os laboratórios das escolas, quer municipais, quer estaduais, priorizam o atendimento dos seus alunos e assim como os TELECENTROS estabelecem horários rígidos, além da carência de profissionais capacitados no horário noturno. Este é o mais auspicioso para os que trabalham e mesmo para os que estudam na modalidade EJA, infelizmente os índices de violência urbana e medo de arrombamentos também indicam o horário como o mais crítico e constrangem os funcionários da escola a restringir a otimização do espaço e, conseqüente prejudicam os alunos da noite.

Além disso, na esfera municipal, os laboratórios das escolas funcionam ou funcionavam provisoriamente com computadores remanejados da própria cidade, o que impede a implementação de um projeto consistente. A Prefeitura pretende lançar ainda nesse semestre o Projeto Aprimora, que equipará os laboratórios com aparelhos modernos comprados com recurso federal. Com isso o funcionamento dos laboratórios ativos foi interrompido, e a construção de novos acelerada.


Uma universidade para todos

Existe na cidade o Espaço Avançado, um dos primeiros programas institucionais a se voltar para questões de envelhecimento e a atender a terceira idade niteroiense. Partindo do Departamento de Serviço Social de Niterói (Escola de Serviço Social da UFF), ao projeto aderiram a Associação Nacional de Gerontologia (RJ), o Fórum de Defesa da Política Nacional do Idoso (RJ), a Prefeitura Municipal de Niterói, através do Programa VIVA IDOSO, e o Projeto Incluir. Este é desenvolvido pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e visa à utilização do tempo ocioso do Laboratório de Introdução à Informática (LII) do Instituto de Computação em prol dos estudantes do pré-vestibular comunitário da universidade, no que tange aos conhecimentos de informática básica.

O Espaço Avançado é um programa que agrega diversas graduações e pós-graduações, como Serviço Social, Educação Física, Letras, Nutrição, Fisioterapia e Computação, promovendo encontros, cursos, debates, oficinas permanentes e atendimento individual ao idoso, focalizando a discussão dos seus direitos e do seu exercício cidadão.

Alunos da universidade atuam como voluntários ou como bolsistas de extensão, desenvolvendo trabalhos acadêmicos ou estágio curricular que enfoquem a terceira idade. O Espaço funciona nas dependências da Escola de Serviço Social da UFF e conta com cerca de 250 idosos inscritos, participantes de 15 oficinas permanentes e de eventos esporádicos O público compreende aposentados da UFF e familiares; pessoas acima de 55 anos, moradores do entorno; pessoas encaminhadas pelo ambulatório de Geriatria e Gerontologia do Hospital Universitário Antônio Pedro (UFF); idosos encaminhados por instituições, clínicas ou entidades - em especial, oriundos do Sistema SUS dos municípios de Niterói e regiões adjacentes. Em termos de recursos computacionais o Espaço é defasado.

A fim de viabilizar uma inclusão digital desses idosos no segundo semestre de 2007 o Projeto e o Espaço formaram uma parceria. Dentre os participantes do Espaço Avançado, foram sorteados quinze idosos para a abertura de uma turma experimental. Os idosos chegaram ao LII muito interessados em aprender a “mexer no computador”. Houve presença maciça e continuamente intensa no decorrer das 16 aulas. O conteúdo, no entanto, não foi cumprido porque as aulas evoluíram de forma mais lenta do que o previsto. Dentre os tópicos do programa, a edição de textos foi o que despertou maior entusiasmo por parte dos idosos, que mostraram interesse em prosseguir no aprendizado da informática no ano seguinte. A aluna mestra (graduanda em Ciência da Computação e responsável pelo lecionamento) se mostrou bastante empolgada com a evolução do curso.


Atualmente a parceria se perpetua ainda em adaptação, já contando com dois mestres (graduandos ou pós-graduandos da instituição) envolvidos no projeto enquanto bolsistas.


Contabilizando os dados

Percebe-se um grande avanço no trato do idoso neste lado da poça, todavia é irrisório se relevado o grande contingente de afetados e infrutíferos se não ultrapassarem o véu da politicagem, quer dos legislativos, quer dos executivos (tanto da prefeitura quanto da universidade). Devemos lutar por essa população tendo em vista que intentamos alcançá-la como integrantes num futuro que não é tão distante para nos permitir o acomodamento ante o descaso do poder público.

Pretendo iniciar o debate e o reportar com este post de estréia. Reconhecendo sua inesgotabilidade conto com os comentários de todos que se permitiram ler até o final.

Até logo.


Fontes:

 http://revista.ibict.br/liinc/index.php/liinc/article/viewFile/265/201, acesso em 29.05.2010
 www.niteroitv.com.br/guia/revista-portugues.pdf, acesso em 29.05.2010 http://www.proex.uff.br/docs/Divulgacao_ComissaoBolsa2010.pdf, acesso em 29.05.2010
 http://niteroitelecentro.blogspot.com, acesso em 29.05.2010
 http://jornalismob.files.wordpress.com/2008/11/lan-house.jpg, acesso em 29.05.2010
 http://thumbs.dreamstime.com/thumb_75/1154886588dK3l2E.jpg, acesso em 29.05.2010
 Visita à FME (Fundação Municipal de Educação), ocorrida em 28.05.2010


8 comentários:

  1. Interessantíssima sua pesquisa. Creio que seja de grande valia para quem realmente está interessado no bem-estar dos da terceira idade. Como bem sabemos e você frisou bem, eles são ainda o esteio da família, por que não também incluí-los na era da informática? A inclusão digital deles é um ato de cidadania. parabéns pela iniciativa da faculdade. Parabéns pela sua matéria!
    Abraços.

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  2. OI Zé!
    Sua notícia é maravilhosa.
    Cheia de esclarecimentos e denúncias.
    Eu já conhecia o programa da Uff e tenho muita vontade de participar dele. Já estive por lá uma vez tentando me oferecer para contribuir com um pouco de matemática do cotidiano, mas não consegui acesso.
    Seu trabalho é um alerta, pois basta olharmos a volta, quando andamos por Niterói, para ver o número cada vez maior de idosos jogados na rua, como restos humanos.
    Que bom que tem muita gente boa na Uff. Apesar de que a universidade poderia assumir mais compromissos com a população de Niterói, pois o número de universitários, ociosos e descompromissados com sua missão social, que ela comporta é muito grande.
    Parabéns!!!!!!
    Um abraço, Eliane Lopes.

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  3. Amigo,
    você foi muito feliz no seu foco do blog, suas colocações nos levas à reflexões, não tinha idéia dessa trabalho da UFF, mas concordo com a colega Elaine que é preciso mais e é possível mais, afinal, tomara que consigamos chegar na terceira idade, e quando lá chegarmos, gostaria de ser considerada e não esquecida, abandonada.
    Parabéns querido,
    Flavia Tiziano.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Muito interessante sua pesquisa tendo como base alertar os problemas enfrentados pela 3ª idade...
    Mas o que me chamou mais atenção é que a Pedagogia não tenha entrado nesta onda de prestação de serviço e solidariedade.
    Seria importante a interação com estes programas que também são educativos!

    Fica um vazio perceber a ausência deste grupo!


    Beijos.
    Solanga Silveira da Silva

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  6. Oi Zé, esse trabalho da UFF é excelente.
    Sua exposição foi muito feliz.Realmente precisamos olhar de uma forma diferente para a terceira idade.
    O município de Niterói realmente precisa investir nisso .
    Parabéns!
    karlaarmstrong.blogspot.com
    Beijos
    Karla Ribeiro

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  7. Oi Zé, muito bom o seu trabalho, realmente há vários segmentos que são solenemente ignorados pelos desenvolvedores de softwares, e saber que tem locais que levam alguma luz para esses grupos como o seu trabalho e o da nossa colega Sandra, faz com que tenhamos fé de que mudanças realmente podem acontecer.

    Muito bom, e que se divulgue muito mais essas informações.

    Bjs,

    Claudia Adriano.

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  8. Oi Zé,
    Parabéns por sua postagem. Realmente o grupo da 3ª idade precisa ser notícia. Os idosos, porque considerados improdutivos, são esquecidos pela sociedade do consumo, do egoísmo e da covardia. Precisamos denunciar hoje para não sermos esquecidos amanhã.
    Um abraço,
    Marilene

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